quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Eu quero a minha mãe!

Obs: Esta matéria eu escrevi junto com a Rafaella Mangione para um trabalho de faculdade. 

Os temas que mais amedrontam as crianças 


Quem nunca teve medo de escuro? Ou nunca acreditou que existissem monstros no armário? A imaginação já levou muitas crianças para a cama dos pais no meio da noite. Os monstros mais assustadores podem aparecer em sonhos, embaixo da cama, dentro do armário e até mesmo nas sombras. A criança tem o poder de fantasiar coisas com a maior facilidade e dessas fantasias podem sair os piores pesadelos.

De onde eles vêm?

A maioria das crianças tem medo de alguma coisa, como ficar sozinhas, medo de fantasma, de escuro ou de monstros. Esses medos podem ser considerados normais, pois elas são pequenas e se sentem totalmente indefesas. Guilherme Sá Fortes, 19 anos, inventou seu próprio medo:
- Eu tive vários medos, desde medo do escuro até ser atacado pelo inseto barbeiro e pegar a Doença de Chagas. Inclusive, uma vez em que fiquei sozinho em casa, eu estava tão tranqüilo que inventei um monstro. Passei a morrer de medo dele depois.
Porém, também existem os medos influenciados por histórias, por canções de ninar, pela televisão e inclusive pelos próprios pais. Ouvi-los falar de suas próprias inseguranças e medos pode causar uma transferência dessas sensações para a criança. Situações de conflitos em casa também podem desestabilizá-la.
Muitos adultos acreditam que podem educar e disciplinar os filhos através do medo. Eles inventam histórias assustadoras para dar limites. A psicóloga infantil Cláudia Loureiro afirma que os pais agem assim por parecer mais fácil:
- Muitos pais acham que, já que é tão difícil educar, podem soltar logo uma ameaça. Para eles, é mais fácil educar botando medo. Mas eles não percebem que, com isso, podem acabar gerando um problema para a criança e para eles mesmos.
Segundo a psicóloga, a educação tem que incluir limites, mas não deve ser através do medo:
- Não tem que colocar medo na criança, falando que “se não fizer isso o monstro vai pegar, você não vai pro céu”. É lógico que tem que colocar limites, o              que é completamente diferente de botar medo. Acho que os adultos confundem uma coisa com a outra.
            Isso aconteceu muito com a estudante de Direito, Amanda Moura, 21 anos. Sua mãe acreditava que poderia protegê-la do perigo das janelas de casa inventando histórias.
- Minha mãe falava que se eu encostasse na janela, vinha o diabinho e me empurrava. Até hoje eu não gosto de chegar perto da janela.
            Situações em que há a super proteção dos pais também podem gerar estresse na criança. Bianca Brandão, 16 anos, conta que tinha medo de ficar sozinha e atribui isso aos pais:
- Tinha medo de acontecer alguma coisa e não saber o que fazer. Tinha a impressão de que qualquer problema que eu tivesse, não teria a quem recorrer. Acho que isso aconteceu provavelmente por causa da proteção dos meus pais. Eles sempre insistiam pra eu me cuidar e falavam que eu deveria me preocupar muito com a minha segurança. Acho que isso fez com que eu me preocupasse mais do que o necessário.

Na escola

            O medo de ficar sozinho é muito comum. Isso se deve à insegurança que a criança tem de se encontrar longe das pessoas que a protegem. Um desafio para elas e para os pais é o primeiro dia na escola. O afastamento do ambiente familiar gera desconforto e muito medo. Um lugar estranho sem nenhum rosto conhecido é uma súbita mudança para quem passou todos os dias cercado pela família. Normalmente é uma coisa passageira, a criança se adapta e às vezes até considera a escolinha a sua segunda casa. Após a fase do maternal e do jardim de infância, vem a alfabetização, e com ela, novos medos. É o momento em que começam as cobranças. Ela precisa aprender a ler, escrever e ter mais responsabilidade nos estudos. De acordo com a Dra. Cláudia, daí surgem novas inseguranças:
- Antes era tudo brincadeira com um monte de pequenininhos e a partir da alfabetização, é o início da cobrança. É muito típico a criança começar a ter medo de ficar sozinha à noite. E antes do início da adolescência, em função da insegurança, surge uma série de medos mais relacionados ao futuro, como o que ser quando crescer e a morte dos pais.

Quando o medo se torna um problema

            O medo é um mecanismo de defesa natural de todo ser humano. Ele se manifesta como uma forma de sentir e evitar o perigo. Segundo a Dra. Cláudia, quando em excesso, o medo pode se tornar um problema que afeta na maneira de viver.
- O medo ultrapassa os limites quando a criança tem sintomas de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), de fobia, quando não dorme mais sozinha ou tem insônia. Também quando ela começa a não querer ir ao colégio, quando não consegue se relacionar com os amiguinhos. Nesse caso, a insegurança e as dificuldades estão se tornando patológicas, atrapalhando a vida da criança.
            A psicóloga infantil ainda afirma que, se esses problemas não forem tratados, podem continuar até à vida adulta. Uma fobia infantil pode se transformar em uma fobia adolescente e depois adulta, podendo mudar o foco ou não.
            Outro problema causado pelo medo é o terror noturno. É uma doença infantil que consiste em uma situação de pânico onde a criança acorda no meio da noite, completamente fora de si e gritando. Normalmente não se lembra do ocorrido quando acorda. De acordo com a psicóloga, este é um quadro patológico:
- É uma situação de pânico mesmo. Existe aí uma patologia que deve ser avaliada por um psiquiatra infantil ou um neurologista. Mas, geralmente, quando a criança tem terror noturno, é porque o ambiente familiar é muito tumultuado. Tem um dispositivo psicológico também, mas é um quadro mais grave que deve ser tratado com uma avaliação médica.
            Outra doença cada vez mais comum em crianças é a Síndrome do Pânico. Ela se caracteriza por altas crises de ansiedade e geralmente é um sintoma de depressão. Pode ser tratada com terapia e com o acompanhamento de um psiquiatra. No entanto, antes dos anos 1990, era quase impossível o diagnóstico. A psicóloga Regina Celi teve a doença aos cinco anos de idade. Segundo ela, se passaram anos até descobrir o que tinha:
- Comecei a ter crises de ansiedade muito grandes na época em que meus pais se separaram. Eu estava vivendo uma situação muito difícil e minha mãe se apavorava com minhas crises. Quando um adulto faz isso, ele reforça o medo. Tive crises durante anos e só descobri a causa depois de ter filhos, nos anos 1990.
            Regina passou por vários médicos, e um a diagnosticou com verminose. Aos 15 anos, foi a outro que afirmou que era ansiedade e receitou um calmante natural. Segundo a psicóloga, o calmante não cura a doença:
- Como a síndrome do pânico é característica de quem tem depressão, um calmante não basta. Na época, eu tomava e sentia alivio, mas de vez em quando tinha a crise de novo. Fui a outro médico que passou um calmante mais forte. Percebi que havia algo errado, porque não era possível que nada resolvesse o problema. Foi quando uma médica me disse que eu tinha depressão e me receitou um antidepressivo. Isso só aconteceu nos anos 1990.
            Hoje a Síndrome do Pânico é muito conhecida e diagnosticada com mais facilidade.

A influência da Mídia no medo infantil

            A mídia tem um papel importante na criação de medos infantis. Imagens de jornais, filmes e até mesmo de desenhos podem assustar. Muitos desenhos famosos têm vilões assustadores como a Bruxa do Mar, do filme A Pequena Sereia e a madrasta da Branca de Neve. Em 2001, a Disney e a Pixar lançaram o filme Monstros S.A. A história é sobre um mundo de monstros onde a energia depende do grito de crianças do mundo humano. Através de portas da companhia de eletricidade, eles entram no armário das crianças e as assustam à noite. Até o dia em que uma menina segue o seu monstro e vai com ele para o seu mundo, onde crianças humanas são proibidas. A partir daí o filme mostra como os monstros podem ser amigos, mudando pela primeira vez a relação entre eles e as crianças.
Mariana Lina, 21 anos, se impressionava facilmente:
- Quando eu tinha quatro anos, tinha medo do escuro. Quando eu via alguma coisa com imagens no jornal ou na televisão, eu ficava impressionada, e no escuro eu ficava lembrando e tinha medo.
            Antônio Carlos de Melo, 22 anos, ao assistir uma reportagem na televisão, adquiriu o medo de seres extraterrestres.
- Quando eu tinha sete ou oito anos, passou uma reportagem na TV sobre o ET de Varginha. Eu vivia imaginando ETs e morria de medo.
            André Vilarinho, 23 anos, relacionava o medo do escuro ao medo de filmes:
- Eu achava o escuro assustador, talvez por ver que, nos filmes, as coisas ruins e assustadoras sempre aconteciam no escuro. Com a luz apagada a gente não tem noção de nada, e para uma criança isso pode ser muito assustador. 

Lições Ameaçadoras
Existem muitas histórias para crianças que são contadas no mundo inteiro. Aparentemente com um tom bobo, parecem inofensivas. Mas algumas delas podem realmente mexer com a cabeça dos pequeninos.
Velho do saco: segundo a história, caso a criança saísse sozinha ou fosse brincar na frente de casa, viria um velho sujo e mal vestido com um saco para pegá-la e colocá-la junto com as crianças que ele havia pegado pelo caminho.
Bicho-papão: figura fictícia da tradição da maioria das sociedades, que representa uma forma de colocar medo nas crianças caso não obedeçam. O bicho-papão come as crianças e é um monstro terrível.

Na hora de dormir...
As canções de ninar mais famosas têm um significado um tanto ameaçador. A “musiquinha” da Cuca e do Boi da Cara Preta são exemplos disso.
“Nana neném, que a Cuca vem pegar. Mamãe foi pra roça e o papai foi trabalhar”. 
“Boi, boi, boi. Boi da cara preta, pega essa criança que tem medo de careta”.
O comediante Fabio Porchat incluiu essas duas músicas em seu texto de Stand Up Comedy.  Segundo ele, todas as crianças são traumatizadas por seus pais. Na música da Cuca, ele pergunta “Quem está cantando a música?”. Isso dá o que pensar! Na música do Boi da cara preta, ele diz “Você quer assassinar seu filho só porque ele tem medo de careta!”. Claro que, tudo isso, em tom humorístico.



Por Rafaella Amata e Rafaella Mangione 



Fonte: 




terça-feira, 24 de agosto de 2010

TV digital e cultura

A dissertação de mestrado na área de Educação “A digitalização da TV e os contextos culturais”, do engenheiro eletrônico Rodrigo Meirelles, tem como proposta a investigação das potencialidades, limites e extensões da TV digital no contexto da educação e da cultura. O estudo foi desenvolvido no sentido de mostrar o direcionamento da implantação da TV digital no Brasil, a partir do papel que a televisão tem ocupado após a sua digitalização e do que ocupará no contexto social e cultural no início do século XXI.

Como sempre teve um elo com a tecnologia, principalmente nas áreas de áudio e música, Meirelles decidiu pesquisar este campo:

— Para o mestrado em educação, além de minha experiência como professor de música, um fator que me atraiu para a pesquisa nesse campo do conhecimento foi justamente a possibilidade de aliar educação e cultura aos estudos de tecnologia e voltar o olhar para além dessa tecnologia por si só.

Desde que ingressou no mestrado, Meirelles pretendia aliar as teorias educacionais a seus conhecimentos de tecnologia e também construir uma contribuição para o campo pelo qual é apaixonado.

— Considerei que era o momento de eu me aproximar de outras áreas para crescer como indivíduo, pesquisador e como profissional. No caso da TV digital, vivemos justamente num período em que as discussões tecnológicas passam a dar cada vez mais espaço às discussões de aplicações, impactos culturais e formas de receber e aprender com a mídia, por meio dela e sobre ela.
                                                                                                                   
Por ser um tema muito recente, principalmente na área da educação, o engenheiro eletrônico usou como fontes visitas a congressos e eventos nacionais e internacionais sobre TV, além de escassas publicações e livros sobre o tema. Nestas visitas, era possível presenciar discussões e apresentações de propostas de uso que ainda não constam em publicações e no mercado de consumo. “Além disso, usei entrevistas com pensadores de televisão e coleta de opiniões sobre representações sociais da TV digital, o que possibilitou ter uma ideia do que pensam as pessoas sobre isso no Brasil e ligar as informações às descobertas do campo de pesquisa”.

Segundo Meirelles, através de revisões bibliográficas e do contato com os campos da comunicação, informática, engenharia, entre outros, foi possível traçar uma base sólida no que diz respeito ao que foi construído até hoje e estabelecer a interatividade, portatibilidade, multiprogramação e alta-definição como postulados da TV digital.

Muitos dos que sabem que a TV digital é mais do que alta definição de imagem e som multicanal acreditam que a interatividade transformará a televisão em Internet e levará à ruptura do modelo de massa de um para todos para um modelo horizontal como o da Internet, de todos para todos.

Entretanto, segundo Meirelles, foram encontradas no trabalho pistas que apontam no sentido de que essa ruptura não é feita através da interatividade proposta pela televisão, mas sim de sua utilização em um contexto de múltiplas mídias. “Desse modo, características da TV como a portabilidade e a interatividade servem apenas de elo com esses novos contextos e não atuam necessariamente como agentes de ruptura com o modelo preestabelecido”, explica.

Ao longo de sua pesquisa, Meirelles percebeu que ainda se sabe muito pouco sobre o que é a TV digital terrestre no Brasil e que as discussões ainda não atingiram a maturidade necessária na esfera que ultrapassa a da tecnologia. “É preciso levar a discussão do tema para outros grupos que não sejam somente os dos especialistas”, afirma.

Ele ainda ressalta que a TV digital no Brasil tem um enorme potencial de utilização no campo da educação e da cultura, principalmente pelo fato de que a TV já faz parte do cotidiano e da cultura do povo.

— A TV Digital é potencializada quando inserida no contexto das novas tecnologias da informação e da comunicação. Se voltarmos nosso olhar para além da comparação com as demais mídias digitais, enxergaremos uma TV digital com características que complementam as ditas novas mídias.

                                                                                                                                   Por Rafaella Amata

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Filmes para aprender

Com a função de aprendizagem, os departamentos de Direito e de Psicologia têm realizado projetos que envolvem filmes: o Cine Direito e o Psinema. Os projetos consistem em reunir alunos para assistirem a filmes seguidos por uma exposição feita por professores e convidados e debates com o auditório.

O projeto Cine Direito começou com a exibição do filme “O Poderoso Chefão” em sala de aula em 2005. O coordenador do projeto, Fábio Carvalho Leite, realizou essa experiência e, com o sucesso, o projeto foi institucionalizado em 2006. Ele é basicamente formado por alunos de direito, mas alunos de outros cursos também podem participar. Os filmes exibidos não são necessariamente com temas de direito. Segundo Fábio Carvalho Leite, este é um diferencial do projeto na PUC-Rio:
- Um pouco do perfil do curso de direito é o seu caráter mais interdisciplinar. Isso permite filmes que tratem de fatos mais próprios a outras áreas de conhecimento, mas que de alguma forma interessem ao curso. São filmes que mostram uma visão mais ampla e não se restringem a casos judiciais. O Cine Direito tem um diferencial que é justamente a exposição feita pelo professor, porque suscita reflexões que o aluno não necessariamente teria por conta própria.

Leite ressalta a importância da repetição de alguns filmes importantes, pois sempre há um público novo. Ele também acredita que outros cursos deveriam utilizar os filmes, já que esta é uma boa forma de levar questões aos alunos:
- Acho que a linguagem cinematográfica é uma facilitadora. Os filmes citam reflexões para qualquer área do saber, então podem interessar ao Direito, a Filosofia e a outras áreas do saber.
Segundo o aluno de direito Heitor Torrini, o projeto é uma boa forma de fugir do padrão de sala de aula:
- Acho excelente porque os professores escolhem filmes que marcaram algum ponto em sua carreira e, quando ministram a palestra, falam muito bem. É como se o filme servisse de exemplo para várias partes da matéria.

O projeto Psinema começou como uma opção de atividade complementar para alunos de Psicologia em agosto de 2008. É um projeto do departamento de Psicologia organizado pelos alunos Gabriel Ninô, Natasha Helsinger e Rafael Semedo, que recebem a Bolsa de Tutoria de Ensino e Pesquisa da PUC-Rio (TEPP), coordenada pela professora Eva Jonathan.
Segundo Ninô, a proposta é fugir de temas óbvios do curso:
- A gente não queria passar filmes como “Uma Mente Brilhante” e falar de patologias e diagnósticos. Qualquer filme que possa proporcionar algum debate, independente de mostrar alguma doença mental bem específica, pode ser utilizado.

Geralmente, os organizadores escolhem o professor e este escolhe um filme para ser exibido. Os debates são variados e podem ser feitos antes ou depois da exibição. Para Semedo, os filmes são uma boa forma de ilustrar o conhecimento discutido em sala de aula. Ninô acredita na importância da variedade no modo de ensino dos cursos:
- Não estamos nos formando para nos tornar uma máquina do saber somente do que estudamos.
De acordo com Natasha, os filmes contribuem para o aprendizado:
- O cinema se torna uma fonte muito rica para o psicólogo ou estudante de Psicologia, pois permite que o espectador entre de alguma maneira naquele mundo. Mas, ao mesmo tempo em que ele se aproxima, se emociona, ele deve também manter uma distância, o que se assemelha com a posição que devemos ter com um paciente.

A aluna Jordana Souza assistiu ao projeto três vezes nesse semestre:
- Gosto do projeto porque gosto muito de cinema e acho que ele está muito ligado não só à Psicologia, mas à Filosofia, Antropologia, História e muitas outras. No projeto, acho que o aluno de Psicologia tem uma introdução à interpretação do ser humano e da mente.
Os dois projetos valem como atividade complementar para os cursos de direito e psicologia.


                                                                                                                                  Por Rafaella Amata